Martin Luther King, Malcolm X, Charles Xavier e Magneto: Quatro Vozes, Um Mesmo Grito por Justiça




Entre Heróis e Líderes: Ficção, Realidade e a Luta por Equidade.


Vamos iniciar falando da fascinante história da HQ da Marvel que traz Charles Xavier, um professor que recruta mutantes para construir uma visão de paz e convivência entre humanos e mutantes. Do outro lado temos Magneto, que também recruta mutantes, mas com a proposta da revolta, ele acredita que os mutantes devem tomar o seu lugar por direito, já que são superiores biologicamente aos humanos.



Esses dois personagens são frequentemente relacionados com Malcolm X e Martin Luther King Jr. Não que  haja algum tipo de afirmação de Stan lee em algum lugar que faça ligação desses personagens reais com os fictícios, mas essas comparações  são feitas constantemente onde o professor Charles Xavier é comparado a Martin Luther King por seu discurso pacífico e conciliador, parecido com o famoso discurso "Eu tenho um sonho", no qual King sonhava com um mundo onde brancos e negros pudessem ocupar o mesmo espaço com igualdade, sem preconceito.

Já do lado de Malcolm X está Magneto, alguém que não vê com bons olhos essa proposta de união com uma sociedade que constantemente tenta oprimir os diferentes. Malcolm X acreditava que os negros deveriam se proteger e se fortalecer por meio da separação, buscando autonomia e recusando a ideia de que deveriam se integrar a uma estrutura racista. Ele via instrumentos como a educação, economia e cultura sendo usados como ferramentas de dominação dos brancos sobre os negros. A citação a seguir nos faz refletir sobre sua opinião sobre o assunto.

“O negro da casa amava seu mestre mais do que o mestre se amava. Se o mestre adoecia, ele dizia: ‘Estamos doentes?’ Se a casa do mestre pegava fogo, ele tentava apagar o fogo mais rápido que o próprio mestre. Mas o negro do campo... ele odiava o mestre. Se a casa do mestre pegava fogo, ele rezava por vento.”  (MALCOLM X, 1963, apud SHABAZZ, 1965, p. XX).


Magneto, nesse sentido, carrega uma visão semelhante. Ele também enxerga os humanos como opressores e acredita que a convivência pacífica é uma ilusão perigosa. Embora em algumas versões da história ele queira apenas proteger os mutantes a qualquer custo, em outras interpretações mais extremas, Magneto já demonstrou intenções de eliminar a raça humana ou, pelo menos, de subjugá-la para garantir que os mutantes jamais sejam perseguidos. Ou seja, ele oscila entre um discurso de defesa radical e, sim, momentos em que se aproxima da ideia de extermínio como solução.



Malcolm X e a mudança após Meca: da separação à solidariedade


Durante anos, Malcolm X foi uma das vozes mais duras contra o racismo nos Estados Unidos. Como porta-voz da Nação do Islã, defendia a separação total entre brancos e negros, acreditando que a convivência era impossível numa sociedade construída sobre a opressão racial. Mas isso começou a mudar em 1964, quando ele realizou a peregrinação à Meca, um momento que redefiniu sua visão de mundo.

Em sua autobiografia de Malcolm X, que foi escrita em colaboração com o jornalista Alex Haley. O livro, publicado originalmente em 1965, é baseado em uma série de entrevistas que Haley conduziu com Malcolm X entre 1963 e 1965. Embora seja chamada de “autobiografia”, grande parte da redação e estrutura narrativa foi organizada por Haley, que não era conhecido por seguir uma fé específica de forma pública ou militante, teve contato próximo com líderes religiosos como Elijah Muhammad, da Nação do Islã, durante a colaboração com Malcolm X, mas isso se deu mais por interesse jornalístico e literário. Esse próximo trecho nos traz a ideia que vamos trabalhar a seguir. 

 Durante minha peregrinação sagrada à Meca [...] vi muçulmanos de olhos azuis e cabelos loiros tratando-me como um irmão. Isso me forçou a repensar muitas das minhas ideias anteriores sobre os brancos” (Malcolm X, 1965, p. XX).

Esse encontro com pessoas de diferentes etnias vivendo em harmonia dentro da fé islâmica fez Malcolm rever sua postura. Ele passou a acreditar que o problema não estava na raça em si, mas nas estruturas que sustentavam o racismo. A partir dali, seu discurso se voltou para os direitos humanos e para a luta global contra a injustiça e não apenas dentro da realidade americana. A peregrinação à Meca não apagou seu ativismo, mas lapidou sua mensagem, do confronto à consciência, da separação à solidariedade sem nunca abandonar a firmeza.

Magneto, cujo nome verdadeiro é Max Eisenhardt, é um personagem judeu cuja origem está profundamente ligada aos horrores do Holocausto. Ele sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz, onde perdeu seus pais e outros familiares por serem judeus. Essa experiência traumática moldou sua visão de mundo e sua desconfiança em relação à humanidade, especialmente diante da intolerância e da perseguição. A dor de seu passado é um dos principais motores de sua luta pelos mutantes, que ele vê como uma nova minoria ameaçada, assim como os judeus foram nesse período marcante na História, a chamada “Solução Final” (Endlösung, em alemão). Ele foi formalmente articulado em 31 de julho de 1941, quando Hermann Göring autorizou Reinhard Heydrich a elaborar um plano que foi detalhado e coordenado na Conferência de Wannsee, realizada em 20 de janeiro de 1942, em Berlim, onde líderes do regime nazista definiram a logística para deportar e exterminar os judeus da Europa ocupada.

Já Charles Xavier, o Professor X, não é judeu. Nos quadrinhos, ele tem ascendência britânica e foi criado em um ambiente privilegiado. Sua abordagem para lidar com a discriminação contra mutantes é mais pacífica e baseada na coexistência, contrastando com a visão mais radical de Magneto.


Magneto já liderou a escola dos X-Men?



Apesar de ser conhecido como o maior rival de Charles Xavier, Magneto já assumiu a liderança da Escola para Jovens Superdotados em momentos críticos. Um dos casos mais marcantes acontece na HQ Uncanny X-Men 200, quando Xavier parte para o espaço com Lilandra, e Magneto fica responsável pela escola e pelos Novos Mutantes

Essa mudança mostra um lado mais complexo do personagem, que, mesmo sem abandonar suas convicções, tenta seguir o legado de Xavier e proteger os jovens mutantes.

Na animação X-Men 97, essa fase também é retratada, com Magneto assumindo o papel de mentor e professor após a ausência de Xavier.

Conclusão 

Com base em tudo que vimos, dá para perceber como a ficção e a história real se entrelaçam, e unem de alguma forma Magneto com Malcolm X, que passou por experiências que moldaram suas visões para uma postura mais radical, e perceber que ambos, em algum momento, demonstraram abertura para mudanças. Charles Xavier, por outro lado, nos traz essa ideia que nos inspira na figura de Martin Luther King, que representava a esperança de convivência e diálogo entre diferentes.

No fim, as ideias podem até divergir nos métodos, e esses métodos, de alguma forma, podem até ter passado por alguma modificação, mas todos esses personagens, reais ou fictícios, compartilhavam a mesma base: lutar contra a desigualdade e por um futuro mais justo. E essa luta só faz sentido quando se entende que a equidade entre raças não é opção, é necessidade histórica.

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Referência bibliográfica:

MALCOLM X. Message to the Grassroots. In: SHABAZZ, Betty (Org.). Malcolm X Speaks. New York: Merit Publishers, 1965.

(https://ovicio.com.br/x-men-97-a-historia-do-magneto-em-10-fatos/?citationMarker=43dcd9a7-70db-4a1f-b0ae-981daa162054 "2").


(http://www.guiadosquadrinhos.com/edicao/saga-dos-x-men-a-n-12/sa011129/173281?citationMarker=43dcd9a7-70db-4a1f-b0ae-981daa162054 "1").


[43dcd9a7-70db-4a1f-b0ae-981daa162054](https://pt.wikipedia.org/wiki/Magneto_%28Marvel_Comics%29?citationMarker=43dcd9a7-70db-4a1f-b0ae-981daa162054 "1").

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