O que eu achei do novo filme do Superman?
Origem do Superman
O que achei do novo filme do Superman
Sei que minha opinião não é das mais relevantes e que poucos vão parar para ouvi-la.
Pra muitos, ela pode realmente não ter importância — mas tudo bem, posso conviver com isso, rs.
Com humildade, quero compartilhar o olhar de um professor de escola pública, apaixonado pelo mundo geek e com uma visão teológica reformada, sobre o novo filme do Superman.
Não sou crítico de cinema, apenas alguém que encontra sentido até na ficção — especialmente quando ela nos ajuda a refletir sobre o que somos e no que podemos nos tornar.
Agora, se você quiser saber a minha opinião sobre o filme... confere aí:
Aqui estão 5 coisas que enxerguei nesse novo Superman:
1. Krypton, Superman e a mordomia da criação
Achei bem legal o cuidado que o Superman tem com seu cachorro Krypton no novo filme. Mesmo sendo um herói ocupado salvando o mundo, ele tenta cuidar do seu parceiro de quatro patas — mesmo quando o cachorro é bagunceiro e dá trabalho. Isso me fez refletir sobre algo essencial: teologicamente, o ser humano foi criado para ser mordomo da criação de Deus.
Na tradição cristã reformada, cuidar da criação não é um capricho, mas um chamado. O filosofo Agostinho nos lembra:
“Interroguei a terra, e ela me disse: ‘Não sou teu Deus.’ Interroguei o mar e os abismos, e os animais rastejantes, e eles responderam: ‘Não somos teu Deus; olha acima de nós.’”“Interroguei tudo o que existe fora de mim, e eles gritaram com uma só voz: ‘Foi Ele quem nos fez.’”
Essas palavras nos convidam a enxergar a beleza da criação como um reflexo do Criador — e, portanto, algo que merece respeito e cuidado.
João Calvino também via a natureza como um teatro da glória de Deus, mas com equilíbrio. Ele alertava contra exageros, como o caso histórico conhecido como o Grande Massacre de Gatos na França do século XVIII. Nesse episódio, aprendizes de uma gráfica revoltaram-se contra o dono da fábrica, que tratava sua gata cinzenta com luxo — alimentando-a com carne assada e mandando pintar retratos dela — enquanto os funcionários eram maltratados e alimentados com restos. A matança dos gatos foi uma forma grotesca de protesto, revelando um desequilíbrio entre o cuidado com os animais e o desprezo pelos seres humanos.
A criação não deve ser adorada, mas cuidada. O dever ao qual estou me referindo aqui, dentro da teologia, é: amar o Criador acima de todas as coisas — e, em seguida, amar o próximo.
Superman, nesse sentido, traz um exemplo de equilíbrio: ele protege o planeta, mas cuida de Krypton com afeto. Proteger o que Deus ama, inclusive o mundo que Ele criou.
"O justo cuida bem dos seus animais, mas o coração dos ímpios é cruel." ( Provérbios 12:10)
Esse é um dos versículos mais diretos sobre o dever de tratar os animais com compaixão. O papa Francisco disse, algo interessante, ele como uma figura mundialmente famosa trouxe algo interessante. Essa frase resume bem a crítica à inversão de prioridades éticas.
“Há pessoas que amam mais os animais que o seu próximo.”
Superman, nesse sentido, traz um exemplo de equilíbrio: ele protege o planeta e não deixa de cuidar de Krypton com afeto.
Defende a Terra de catástrofes — como aquela clássica cena de afastar um meteoro ou algo do tipo — para que ela não seja prejudicada.
Ele é uma espécie de defensor.
E esse é um dos papeis do ser humano dentro da ideia da mordomia cristã:
cuidar, ter afeto (por que não?), mas sem jamais colocar esse cuidado acima do amor ao Criador e aos outros seres humanos.
2. Senhor Incrível
O novo filme do Superman apresenta ao público o Senhor Incrível (Mister Terrific), interpretado por Edi Gathegi. Muita gente pode achar que ele foi criado para o cinema, mas não — ele já existe nos quadrinhos há décadas.
O personagem surgiu em duas versões:
- Terry Sloane, criado em 1942, era um prodígio branco, milionário e atleta, que adotou o lema “Fair Play” e combatia o crime nos anos 40.
- Michael Holt, criado em 1997, é a versão moderna e negra do personagem. Holt trouxe uma nova dimensão ao herói: justiça social, genialidade e tecnologia. Ele é considerado o terceiro homem mais inteligente do universo DC, atrás apenas de Lex Luthor e Bruce Wayne.
- Ex-atleta, gênio e referência em tecnologia
Michael Holt é um verdadeiro prodígio: 14 doutorados, medalhista olímpico no decatlo, mestre em artes marciais e inventor das T-Esferas — dispositivos flutuantes que funcionam como armas, escudos e projetores holográficos. Ele é CEO de uma empresa de tecnologia e atua como herói com discrição e estratégia.
Sua trajetória mostra que genialidade e excelência física podem caminhar juntas — e que um herói não precisa voar para ser incrível.
Representatividade importa — mas não resolve tudo
A presença de um herói negro como Holt é significativa, mas não resolve o problema do racismo é claro. Representatividade é um passo importante, especialmente para crianças negras que se veem refletidas em figuras de coragem e inteligência — mas é preciso ir além.
Um exemplo histórico de segregação no Brasil é a Lei do Ventre Livre (1871), que libertava filhos de escravizados, mas mantinha os pais em cativeiro. Já a Lei dos Sexagenários (1885) libertava apenas os escravizados com mais de 60 anos, muitos já debilitados. Essas leis mostravam como o racismo era institucionalizado e como a liberdade era concedida de forma limitada e estratégica.
Mais recentemente, a Lei 7.716/1989, que criminaliza o racismo, foi essencial — mas só em 2023 passou a incluir a injúria racial como crime de racismo.
Grandes mentes existem e inspiram. É importante lembrar que no mundo real também temos mentes negras brilhantes que mudaram o mundo:
- Neil deGrasse Tyson – astrofísico e divulgador científico.
- Katherine Johnson – matemática da NASA que ajudou a calcular trajetórias de voo para as missões espaciais.
- Patricia Bath – oftalmologista e inventora do Laserphaco Probe, revolucionando cirurgias de catarata.
Um momento que me marcou
Gostei muito de ver meu filho olhando para o Senhor Incrível e dizendo:
“Que legal, pai, esse herói!”
E eu gostei demais dessa parte do filme.
3. Superman, o herói falho?
No novo filme do Superman, o que mais me chama atenção não é a força, a velocidade ou a capacidade de voar. É a sua humanidade. Em um momento marcante, ele olha nos olhos de Lex Luthor — seu maior inimigo — e admite com sinceridade:
"Eu falhei."
Essa frase é simples, mas poderosa. Ela desmonta o mito do herói infalível e nos apresenta alguém que, mesmo com poderes divinos, é capaz de reconhecer suas limitações. E talvez seja exatamente isso que nos conecta com ele.
O impossível ideal da moral perfeita
A moral tradicional, especialmente aquela moldada pela herança judaica ou cristã ocidental, muitas vezes é vista como um código de conduta que separa o bem do mal, o justo do injusto. Ela se apresenta como uma bússola, apontando para aquilo que “deveríamos” fazer: ser honestos, amar o próximo, perdoar, agir com justiça. Algo nobre, necessário, e essencial para o convívio em sociedade.
Mas Nietzsche entra nessa discussão como uma explosão filosófica. Para ele, a moral tradicional é uma construção que reprime o potencial do ser humano. Ele não via a busca por "ser bom" como uma virtude universal, mas como uma forma de domesticação, uma moral dos fracos, que sufoca a liberdade. Daí sua famosa afirmação:
“Deus está morto” — não em sentido literal, mas como símbolo do colapso da moral absoluta.
É por isso que muitos veem Nietzsche como um desafio intelectual necessário, especialmente teólogos como Karl Barth, que não o ignoraram, mas procuraram enfrentá-lo com honestidade.
Vamos ilustrar isso com um ícone contemporâneo.
Se nem o Superman conseguiu...
"Eu errei."
Sim, Superman — o símbolo do bem absoluto — confessou sua falha.
De um lado, a necessidade de buscar o bem, o justo, o correto, é essencial para qualquer sociedade civilizada, mas, de outro, alcançar isso plenamente é humanamente impossível.
E talvez seja aí que a crítica de Nietzsche, a lucidez de Kant e o drama do Superman se encontram. Todos, à sua maneira, nos lembram:
Mesmo idealizado como perfeito, o Superman carrega falhas — não físicas, nem ligadas ao uso de sua força — mas falhas morais e éticas. Afinal, ninguém consegue cumprir todas as leis exigidas pela Torá. E é justamente ao reconhecer suas falhas que reside sua grandeza. Porque ele escolhe continuar. Ele escolhe fazer o bem, mesmo diante das dúvidas, mesmo diante do medo.
A necessidade de heróis
A verdade é que, como humanidade, sempre buscamos heróis. Seres que nos lembrem de que ainda vale a pena lutar. Que inspirem coragem. Que nos façam acreditar que existe justiça em meio ao caos.
Agora na história em minha opinião surge Jesus na História, e não estou aqui utilizando teologia, onde o declara totalmente perfeito, não fisicamente, não com super poderes, mas nasceu e cresceu sem cometer um deslize, e é considerado tanto na teologia como para algumas citações fora da Bíblia como alguém totalmente ético e íntegro, na linguagem teológica sem pecados.
Sim, há toda uma dimensão teológica sobre Cristo como Filho de Deus, Salvador, Redentor que, neste momento, não pretendo aprofundar, existindo inúmeros artigos na internet que os fazem muito bem.
Mas há também um Jesus pertencente a História, não no sentido da busca pelo “Jesus histórico” — ou seja, tentar reconstruir a figura de Jesus com base em métodos históricos e fontes extrabíblicas, que tem sido alvo de críticas teológicas profundas, especialmente por parte de teólogos reformados e conservadores. Mas digo no sentido de um homem real, que traz a ideia de um ser que moralmente não errou.
Esse homem, nascido em uma pequena vila da Judéia, mudou o mundo, não com poderes sobrenaturais visíveis, mas com palavras que atravessaram séculos. Com amor sacrificial. Com coragem diante da morte.
E essa figura não é apenas uma crença da fé cristã. Ela é registrada por fontes não cristãs, como o historiador judeu Flávio Josefo, que escreveu:
“Neste tempo apareceu Jesus, um homem sábio, se é que se pode chamá-lo de homem, pois ele operava feitos extraordinários e era mestre daqueles que recebem com prazer a verdade. [...] Foi ele o Cristo. E quando Pilatos, por denúncia dos principais entre nós, o condenou à cruz, aqueles que antes o haviam amado não deixaram de amá-lo. E ele apareceu a eles vivo ao terceiro dia, como os profetas haviam predito.”— Antiguidades Judaicas, Livro 18, Capítulo 3
É claro que esse relato é apenas um fragmento e há debates sobre sua redação, mas ainda assim mostra que a existência histórica de Jesus é amplamente reconhecida, mesmo fora dos escritos bíblicos.
O que mais me impacta
E é isso que o conecta com todos nós.
“Nos fizeste para Ti, Senhor, e o nosso coração vive inquieto enquanto não repousa em Ti.”—Santo Agostinho
4. Uma criança ergue a bandeira
Foi uma cena épica.
No meio do conflito, uma criança ergue a bandeira. Frágil, mas firme. Sozinha, mas cheia de fé.
Com olhos cheios de esperança, ela grita: “Superman!” — não por saber quem ele é, mas por desejar alguém que traga paz.
Esse grito é mais do que um chamado por ajuda. É um clamor universal por paz.
Muçulmanos esperam o paraíso de paz.
Budistas buscam o fim do sofrimento.
Hindus anseiam pela libertação eterna.
Cristãos oram por reconciliação e justiça.
E, no fundo, talvez todos os homens desejem essa paz — mesmo quando o mundo parece esquecer.
Hoje, o planeta vive sob o peso de conflitos intensos:
- Israel e Palestina: A disputa territorial e religiosa se arrasta há décadas. A criação do Estado de Israel em 1948 gerou tensões com os palestinos, que reivindicam soberania sobre a Cisjordânia e Gaza. Em 2023, o grupo Hamas lançou um ataque histórico contra Israel, reacendendo a violência.
- Irã e Israel: Em junho de 2025, Israel lançou uma ofensiva contra instalações nucleares iranianas, alegando ameaça existencial. O Irã retaliou com centenas de mísseis, e os EUA intervieram com bombardeios estratégicos. O conflito expôs a fragilidade da paz no Oriente Médio.
- Ucrânia e Rússia: Desde 2022, a Ucrânia resiste à invasão russa. Em julho de 2025, a Rússia lançou o maior ataque aéreo da guerra, com mais de 700 drones. A guerra já causou milhares de mortes, milhões de refugiados e uma crise energética e alimentar global.
🎬 No filme “Superman”, dirigido por James Gunn, há uma cena em que duas nações fictícias entram em guerra: Borávia e Jarhanpur. A geografia e o clima político lembram o Oriente Médio e a Europa Oriental, com bandeiras, tanques e civis em fuga. A criança que ergue a bandeira amarela e azul grita por Superman — não por saber quem ele é, mas por desejar alguém que impeça a destruição. É uma metáfora poderosa, que ecoa os gritos reais de tantas crianças em Gaza, Teerã, Kiev.
5. O momento família
No fim do filme, Superman e Krypto brincam juntos na lua — uma cena pós-créditos tirada diretamente das HQs.
Eita... talvez eu não devesse ter dito isso, mas já foi. 😅
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